Poesias Completas
(By Alexandre O'Neill) Read EbookSize | 23 MB (23,082 KB) |
---|---|
Format | |
Downloaded | 612 times |
Last checked | 10 Hour ago! |
Author | Alexandre O'Neill |
“A meio do século passado já me apercebera, confusamente, que tanto ou mais do que eu estavam doentes as palavras. Uma terapêutica, a do alambique, levaria à meditação do branco sobre o branco, e no melhor dos casos ao silêncio. A da ignição, se permitia revelações — nos teus bonitos, banais, olhos castanhos, o favor do seu "verde secreto" — carregava ainda as execráveis maiúsculas "Amor, Aventura, Poesia", e com elas a fantasmagoria do sagrado, a "vida mentirosa, mental". Outra começava em No Reino da Dinamarca, dura e feroz como a abrir nos fora dito: "diamante cruel". Supunha um diagnóstico: o destino como "solidão e mágoa", o "quotidiano não", a vida que "não vivemos", a vizinhança do grotesco normal, do vil decente, e ainda, contudo, o beijo do "jovem amor que recebeu / mandado de captura ou de despejo". Sobretudo, para quem lia ou, pior, escrevia versos, mandava romper com a "poética poesia", afastar os "cabeleireiros de palavras, / pirotécnicos do estupor", lutar contra o "bonito" para fazer "bom". Noutra aparentemente diversa circunstância, quanta merecida e salutar bofetada nos dá O’Neill. Ir, ao contrário, buscar saúde à linguagem doente, no sarcasmo e no jogo, no sem cerimónia e no impuro; e a meio, dizer serenamente algumas verdades decisivas, algumas emblemáticas: que o medo "tudo vai ter" ou o "remorso de todos nós". Mallarmé, — "a tristeza é que não há por lustro um", decerto sob o lustre – não se limitava, não se limita para nós, a reduzir o pobre mundo nosso às sobras do poema; diz-nos antes que a poesia pode e deve atravessar a realidade toda, até ao singular e insigificante, e ao impossível que lhe resiste, tipo mosca Albertina. Tornar-se livro o mundo, é tornar-se mundo o livro, e ainda, não coincidirem nunca.”
António Franco Alexandre in A Phala
Reedição da Assírio & Alvim da obra de Novembro de 2000.”